Mitos e verdades sobre o inverno: entenda como a estação afeta seu corpo

O frio engorda? As dores pioram? O cabelo cai mais? Não é raro que o inverno seja associado a mudanças negativas no corpo e que os benefícios e vantagens das temperaturas mais amenas sejam esquecidos ou ignorados. Se, por um lado, é natural sentir mais fome nos dias frios, por outro, o corpo apresenta espontaneamente um maior gasto energético, o que acaba levando muitas pessoas a adotarem hábitos equivocados. “Com as temperaturas mais baixas, a tendência é querer ‘esquentar’ o corpo com alimentos com alto teor de açúcar e gordura. Mas, é preciso cuidado porque costuma-se praticar menos exercícios físicos, e é possível que se ganhe quilos a mais na balança”, alerta o endocrinologista Alfredo Cury.

Quem também pode sofrer com o frio é a pele, como explica a dermatologista Samantha Enande. “O nosso corpo tem em torno de 36ºC e, quando a temperatura do lado de fora começa a cair, ele perde calor na forma de vapor d’água, ficando cada vez mais desidratado e perdendo alguns sais minerais e nutrientes importantes. A pele, então, acaba ficando fragilizada, ressecada e começam a aparecer as dermatites, que são os processos inflamatórios.” Para manter o corpo e a saúde em dia neste inverno, confira uma lista de mitos e verdades da estação segundo especialistas:

1) É comum sentir mais fome nos dias frios?
Verdade. Você certamente já se perguntou por que a gula parece vir com tudo no inverno. Pois a explicação não é apenas o fato de que ficar mais tempo em casa, debaixo das cobertas e diante da televisão desperta aquela vontade de atacar a geladeira. “Durante o inverno há um aumento no consumo energético, pois a temperatura ambiente, geralmente, é menor do que a temperatura corporal. Nosso corpo trabalha mais para se aquecer, gasta mais energia, por isso precisamos de maior quantidade de nutrientes para a reposição”, explica a nutricionista Ana Maria Gonçalves.

E a questão não é apenas comer mais. No inverno, sentimos o impulso de consumir alimentos mais calóricos e pesados, principalmente, ricos em carboidratos, que constituem uma importante e rápida fonte de energia. Como explica a nutricionista, o sinal da fome transmitido pelo organismo é resultado da ação de fatores neuronais, endócrinos, adipocitários e intestinais. “O desejo de comer não está só na necessidade de repor energia, ele também está presente nas nossas cabeças, no anseio por alimentos quentes e que produzem conforto gastrointestinal.”

2) Saem frutas, legumes e verduras e entram alimentos calóricos.
Mito. Do fondue ao chocolate quente, passando pelo vinho e pela massa, as tentações no inverno não são poucas. Mas, apesar de o corpo precisar repor os gastos energéticos para se manter aquecido e os alimentos calóricos atuarem nesse sentido, não se deve riscar totalmente da dieta os legumes, verduras e frutas.

“O inverno é uma época do ano em que o nosso corpo precisa de vitaminas e minerais para aumentar nossas defesas e prevenir gripe, resfriados e demais enfermidades típicas da época de frio”, afirma Ana Maria Gonçalves. Se consumí-los crus em salada não apetece tanto, vale preparar sob a forma de sopas, caldos ou ensopados.

3) Se exercitar no inverno ajuda a emagrecer
Verdade. É normal bater aquela preguiça só de pensar em sair da cama nos dias mais frios, mas para quem quer emagrecer, essa pode ser a época ideal para dar início ao projeto verão. Isso porque no inverno o metabolismo do corpo acelera, pela necessidade de produzir mais calor, ativando mecanismos naturais que promovem a queima de gorduras. Para impulsionar ainda mais essa tendência do corpo a gastar calorias, vale manter a rotina de exercícios sempre em dia.

4) Risco de desidratação é menor
Mito. É verdade que com as temperaturas mais baixas, a tendência é produzir menos suor. Mas isso não significa que se deva descuidar da hidratação. Apesar de o clima ameno favorecer a redução da sudorese, o corpo compensa com o aumento da vontade de urinar, de forma que continua com a mesma necessidade de água para hidratar os tecidos e manter os órgãos funcionando.

“Outro problema relacionado à desidratação, é a diminuição da sensação de sede, que faz com que, naturalmente, a pessoa beba menos água que o habitual. Logo, manter a ingestão de entre dois a três litros de água por dia é o ideal”, recomenda o médico ortomolecular Dr. Gilberto Kocerginsky.

5) É a melhor época para fazer cirurgia plástica e tratamentos estéticos
Verdade. Você sabia que é nesse período que as clínicas de cirurgia plástica apresentam um aumento de cerca de 40% no movimento? E isso tem explicação. De acordo com o cirurgião Dr. Marcelo Daher, a tendência é que as pessoas passem mais tempo em casa e se exponham menos ao sol, o que torna o pós-operatório muito mais agradável. “A preocupação não está com a cirurgia em si, mas sim no pós-operatório. As cirurgias nos seios, abdômen e lipoaspiração, por exemplo, exigem o uso da cinta durante dias ou até mesmo meses, o que pode incomodar nos dias quentes de verão.”

A dermatologista Flavia Medina destaca ainda os efeitos negativos que o sol poderia ter sobre a pele. “O sol é inimigo da cicatrização e prejudica a recuperação da pele, podendo até piorar ou agravar o estado da cútis se exposta ao sol durante um tratamento”, alerta.

6) As baixa temperaturas podem afetar a saúde da mulher
Verdade. As baixas temperaturas características do inverno provocam algumas mudanças no corpo das mulheres e, segundo o ginecologista Domingos Mantelli, a fertilidade também pode ser afetada. “Pode acontecer de a mulher não ovular, já que a baixa imunidade pode afetar a ovulação.”

Além disso, o frio diminui a vascularização das mamas, podendo provocar algum desconforto. “O frio gera uma vasoconstrição e diminui o aporte sanguíneo para nódulos ou cistos e, consequentemente, pode dar um pouco mais de dor em mulheres que os apresentam”, explica. Outras alterações que podem ser decorrentes das temperaturas mais baixas são mudanças no pH vaginal, que favorecem corrimentos vaginais e podem levar a mulher a ter mais cólicas uterinas. “É recomendável manter uma boa higiene íntima e procurar um ginecologista se tiver algum desconforto para ver se há algum corrimento e tratar”, conclui o ginecologista.

7) O desejo sexual diminui
Parcialmente mito. De acordo com a ginecologista e obstetra Erica Mantelli, é comum que no inverno as pessoas fiquem menos dispostas para sair ou praticar atividade física, o que também pode significar – mas não necessariamente – menos propensão a fazer sexo. “O frio leva à vasoconstrição, o que diminui a irrigação sanguínea na pele, nos órgãos genitais e zonas erógenas e pode prejudicar a sensibilidade.” Mas existem várias formas de esquentar o clima entre o casal, como apostar em alimentos que melhoram a circulação sanguínea e aceleram o metabolismo, como chocolate, vinho, gengibre, pimenta e amendoim.

8) Pode dispensar o protetor solar
Mito. O sol pode até não estar brilhando tão intensamente quanto durante os dias quentes de verão, mas isso não pode servir de desculpa para você abrir mão dos cuidados com a pele. Usar protetor solar diariamente, mesmo em dias nublados, continua sendo a recomendação dos dermatologistas. “Apesar de a luminosidade ser muito maior em dias ensolarados, a luz passa pelas nuvens e reflete em tudo ao seu redor. Como os raios solares são fator de risco para o câncer de pele, além de acelerarem o envelhecimento, o uso do filtro solar deve ser um hábito diário”, garante a médica dermatologista Christiana Blattner. E não basta aplicar o produto no rosto. Todas as demais áreas expostas ao sol, como mãos, braços e colo, devem ser contempladas.

9) Doenças respiratórias são mais comuns
Verdade. Gripes, resfriados, asma, bronquite, rinite e outras complicações tendem a se manifestar com maior intensidade no inverno. Em primeiro lugar, porque as baixas temperaturas favorecem a aglomeração de pessoas em ambientes fechados com pouca ventilação, o que potencializa a transmissão de doenças. Além disso, explica o Dr. Gilberto Kocerginsk, nessa época do ano, o tempo de exposição ao sol é reduzido, comprometendo a concentração e a produção de Vitamina D – associada ao aumento de imunidade em relação a infecções respiratórias.

O médico ortomolecular aponta ainda que a inversão da massa de ar frio faz com que a camada de poluição do ar fique “aprisionada” mais próxima ao chão, agravando possíveis irritações das vias aéreas, olhos e pele. “É importante evitar lugares aglomerados, fechados, neste período, já que a imunidade está baixa e a chance de adquirir alguma doença, principalmente por vias respiratórias, é muito alta”, recomenda o Dr. Domingos Mantelli.

10) Dores musculares se intensificam
Verdade. Quem sofre de dores musculares crônicas ou artrite tende a reclamar da maior intensidade dos incômodos durante o inverno. Isso acontece em função do processo de constrição vascular, ou seja, o estreitamento dos vasos sanguíneos. Além disso, Flavia Medina chama atenção para um hábito comum dessa época e que provoca a tensão muscular. “Com o frio, as contrições musculares e vasculares aumentam porque as pessoas se ‘encolhem’ mais, o que contribui para aumentar as dores”, aponta.

Para evitar esses incômodos, a alimentação pode ser uma boa aliada. “As dores musculares e câimbras podem ser resultado da própria desidratação, do mecanismo de tremor no intuito de manter a temperatura e da deficiência de alimentos ricos em potássio, como banana, alho e abacate, e em magnésio, tais quais o trigo, o tofu e o coco”, indica o Dr.Gilberto Kocerginsky. A coordenadora de Educação Física do Centro Universitário Celso Lisboa, Ana Cristina Barreto, destaca também a importância de fazer um bom aquecimento com movimentos de alongamento sem carga ou de baixa intensidade antes da atividade física. “Exercícios que induzam o aumento do fluxo de sangue, da oferta de oxigênio e nutrientes e da produção de líquido sinovial – que permita maior lubrificação das articulações – no momento da atividade muscular são fundamentais para evitar fatores de risco que possam induzir ao processo lesivo.”

11) Pele ressecada e queda de cabelo são mais comuns
Verdade. A queda na umidade relativa do ar aliada às alterações na temperatura comprometem a hidratação da pele nessa época do ano. “É preciso um cuidado redobrado, pois é muito comum, além do ressecamento, rachaduras e até feridas em lábios e pés”, afirma a dermatologista estética Gabriella Vasconcellos. “O ideal é usar produtos para uma pele mais sensível e fragilizada, substituir o sabonete em barra pelo líquido, que já tem um hidratante na composição, além de aproveitar os três minutinhos após o banho, quando a pele ainda está úmida e vai absorver um pouco mais dos produtos tópicos, para passar um bom hidratante”, recomenda Samantha Enande.

Alguns hábitos comuns dessa época também são prejudiciais para a pele. Christiana Blattner ressalta a importância de não tomar banhos quentes e demorados, pois a água em altas temperaturas retira o manto lipídico que protege a pele. Além disso, muitas pessoas não dão tanta atenção ao cabelo quanto durante o verão. “Elas deixam de lado os tratamentos por causa do frio, lavam menos a cabeça e isso acaba acumulando muita gordura e oleosidade, além de não fazerem os tratamentos regulares nos salões, o que vai deixando os fios mais ressecados”, garante a hairstylist Sonia Nesi.

Fonte: GNT